No Hospital
Serve este post para explicar mais em pormenor como foi a minha estadia no Hotel dos Capuchos, ups, Hospital dos Capuchos.
ps: As memórias podem estar um pouco adulteradas pelos analgésicos e má memória que eu tenho .
Operação Marcada para dia 26 de Agosto de 2009. Fui informado para comparecer no serviço por volta das 11h do dia anterior.
Pensando que se era para a desgraça, desgraça seja! No dia anterior fui jantar fora e gastei todo o dinheiro que me restava, ainda vivo da mesada dos pais, não foi uma quantidade de dinheiro astronómica, mas lá comi um bom bife com a namorada Fiquei quase completamente liso lol, mas que belo bife comi! Só não comi melhor porque não queria ter o intestino em mau estado, quanto pior o intestino pior para mim, a ideia de ficar com o saco deixava-me muito apreensivo.
No dia de "apresentação" lá estava às 11h. Tive de esperar uma hora, mais coisa menos coisa, e sinceramente não me importei nada, pensando no que ia passar a seguir até se estava bem na sala de espera a olhar pela janela para as árvores, estava um dia bonito . Lá me encaminharam para o serviço 6-3, cama 64. Para um serviço de cirurgia esperava algo com quartos de duas ou três camas. Não podia estar mais enganado, são salas dos antigamente, tinha 12 camas e espaço para 14 camas, mas alguém teve a feliz ideia de por lá uns cadeirões para as pessoas operadas se poderem sentar, UMA FELIZ IDEIA!!
A primeira coisa que me mandaram fazer foi rapaz os pelos do peito até à zona pré púbica (ou algo do género que a enfermeira disse), portanto rapar pelos desde a "salsicha" até aos mamilos lol!!! Foi uma coisa estranha, estar ali na casa de banho do hospital a rapar pelos com uma maquina do género daquelas de cortar o cabelo, as que se vêm no barbeiro. Disse adeus aos meus pelinhos e segui em frente. A enfermeira achou que não estava bem rapado e ainda passou mais umas vezes com a maquina, foi estranho ver a minha barriga sem pelos, como as barrigas das meninas . Depois fiquei à espera daquilo que sabia ser inevitável, fazer UMA PREPARAÇÃO!
A preparação chegou lá para as 14h, duas carteiras de clean Prep, ou X prep ou como se chama... alguém sabe para escrever aqui? , as duas carteiras equivalem a um embalagem de SunQuick, como é que sei isto??? lol, a embalagem em que vinha o preparado era de SunQuick. Parecia uma piada de mau gosto, SunQuick bom, preparação = muito mau!!! Demorei umas horas só para beber um copo, a enfermeira não ficou nada contente com isso e disse-me que tinha de acelerar! Cada vez que dava um golo daquela porcaria ficava logo com vómitos.
Deram-me um sumo de ananás para beber melhor, misturei, não funcionou! Acho que nunca mais vou conseguir beber sumo de ananás tamanho o enjoo que apanhei! O truque que arranjei para beber foi dar um golo grande e logo a seguir beber o sumo, ligar o cronómetro para 3 min e voltar a fazer o mesmo. Desta maneira consegui beber tudo, custou como não podem imaginar.
O funcionamento da dita bebida não tem grande ciência, não passa muito tempo para se ficar com uma valente diarreia, porque haveria eu de ser uma excepção? Borrei-me todo loool, umas boas 10 ou 15 vezes.
Sabia que os dias que vinham eram difíceis, mas não conseguia imaginar o que era ser operado e o pós operatório e tudo isso, o desconhecido deixava-me apreensivo.
Operação marcada para as 8h30 do dia seguinte.
Acordaram-me cedo para tomar banho etc, ainda deu para ir uma ultima vez à casa de banho, quando saí estava o carrinho à minha espera, subi para uma viagem que no momento que escrevo ainda não teve fim, mas parece promissora.
Passei uns quantos corredores, estava deitado, não tenho a mínima noção de onde fica, deixaram-me um ou dois minutos à espera à porta da sala de operações. Entrei deitado e não me lembro de ter passado para a mesa “final”, mas lembro-me de estar lá, mandaram-me virar e puseram o cateter epidural, não senti nada. Sempre me disseram que as mesas de operação são muito frias, não senti nada, tinha uns apoios de lado para os braços, tipo crucifixo mas menos aberto. Ainda houve tempo para uma das enfermeiras de serviço gracejar um pouco e por-me mais à vontade.
Perguntaram-me se estava a ficar com sono, respondi que sim, é a última coisa de que me lembro.
Acordei, ainda no mesmo dia, senti-me esquisito, muitos fios, muito sono, um pouco confuso. Dizem-me que a operação correu bem, pergunto se tenho saco, resposta: não. , também me perguntaram se tinha dores, respondi que já tinha tido piores e a seguir adormeci. Desse dia só me lembro também de ver os meus pais e namorada, mas era muito difícil manter os olhos abertos e assim que os fechava estava instantaneamente a dormir!! .
Quinta feira acordo, não sei a que horas, não sei se de manhã ou de tarde. Curiosamente tinha um relógio mesmo à minha frente, mas não me lembro de nada. A coisa não estava com bom aspecto, tinha o cateter epidural, tinha a algália e estava a receber oxigénio no nariz. Do meu nariz saía a sonda que passava pelo nariz e garganta, directamente até ao meu estômago, via todos aqueles líquidos nojentos a sair pelo tubo mesmo à minha frente. A minha garganta atormentava-me, a goela não fecha, aquele tubo é muito desagradável, a boca está sempre a salivar e o nariz produz mais ranho, que vai escorrendo pela garganta, passava o tempo todo a tentar engolir e não conseguia. No meu braço esquerdo tinha um daqueles medidores ligados ao dedo indicador, um pouco abaixo do pulso reparei que tinha mais um cateter no braço do que aquele que me tinham colocado no dia anterior. O braço direito estava bom, sem nenhuma agulhada, mas do lado direito do pescoço sentia algo estranho, o que era? Cateter na jugular!!! A coisa mais assustadora! Ter ali uma agulha espetada no pescoço, este cateter tem dois acessos, ou seja, um ligado ao soro e o outro a servir de brinco! LOL Estava tão lindo...
Mas será que não tinha mais cabos? A resposta é sim, 4 eléctrodos no peito também ligados à máquina. Os meus movimentos estavam bastante limitados e o desconforto era óbvio!
A sala em que acordei era pequena, tinha espaço apenas para 2 camas, foi giro ver o meu coração a bater no aparelho e ao vivo, quando me mexia, com muita dificuldade, tinha de suster um pouco a respiração, a máquina detectava e aparecia lá escrito apneia! Muito giro .
Neste mesmo dia passei por aquele que acho ter sido o fundo do poço!! Banhoca na cama, mal me conseguia mexer e não gostam de gente mal cheirosa (lol). Não me lembro de caras, é esquisito darem-nos banho, principalmente quando limpam uma certa e determinada zona do corpo. É estranho ter as enfermeiras a limpar, e mais estranho seria ter os enfermeiros. No dia em que escrevo, pouco mais sobre este dia me lembro, sei que a minha família me veio visitar, não houve grandes conversas, a dificuldade em falar e o cansaço não deixavam espaço para mais.
Na sexta feira de manhã apareceu o cirurgião. Perguntou como estava, ao que não me lembro do que respondi, mas não terei respondido nada de famoso. As ordem eram simples, tirar cateter epidural, tirar a algália que faz mal, por-me de pé a mexer o mais depressa possível, disse que andar e estar sentado ajudava a mexer os intestinos e acelerava a recuperação. Estar deitado = mau!
Recebi mais um banho, a enfermeira é super bonita (snif snif), puseram-me sentado e o meu mundo ficou de pernas para o ar. Nunca estive tão tonto como nesse dia, as imagens mexiam para cima e para baixo, foi de loucos, além de tonto, fiquei muito nauseado. Uma viagem de 20 metros pareceu uma viagem na montanha russa, quase que vomitava, aquelas curvas na cadeira de rodas...
À noite já conseguia estar sentado decentemente. Entretanto como deixei de deitar liquido pela sonda, tiram-ma! fiquei tão melhor sem aquele maldito tubo. Houve ainda tempo para um contratempo, sentia vontade de ir à casa de banho mas não conseguia fazer nada. Tentámos todas as situações, até ir à casa de banho e deixar a água a correr, nada funcionava. Solução? sim, é isso mesmo, A L G A L I A!!! E neste preciso momento desci ao mais baixo que podia descer na escala das situações deprimentes. Fecharam as cortinas à minha volta, uma enfermeira pegava no saco enquanto a outra na minha (...) Pegou no tubo e pôs lubrificante e depois pegou na minha (...) e encheu desse mesmo lubrificante. Eu pensava, depois disto, já não posso passar por mais nada que me espante, duas enfermeiras pouco mais velhas que eu . Lá enfiaram o tubo, mas a coisa não correu muito bem, vai de enfiar e tirar e enfiar e tirar, não dói muito, mas é super esquisito, no mau sentido. Não tinha a noção de o bexiga estar tão longe, enfiaram imenso tubo. Tinha 1100ml de urina dentro de mim, foi um alivio enorme.
No dia seguinte já andava às voltas, devagar e com uma postura muito postrada, tudo para melhorar! Para meu espanto fui prendado com uma injecção para evitar as tromboflobites, na barriguinha é que é bom lol, dói, claro que dói, lá voltei eu às malditas injecções na barriga, o pior era a futilidade de tudo aquilo visto que eu já andava de um lado para o outro.
O fim de semana passou e segunda veio o cirurgião ver-me. Por esta altura já eu comia comida sólida e sentia-me muito bem, queixei-me de andar um pouco inchado, disse-me que isso é por causa dos soros. Achou-me com tão bom aspecto que disse que ia haver uma revolução (feito parvo não perguntei o que era). Também me queixei das injecções na barriga, ele disse que ia tirar isso. Fiquei tão contente, pensei que estava safo!!! Assim que saiu apareceu a enfermeira a perguntar se já tinha levado a injecção na barriga, sim, tive de levar mais uma, que revolta, eu a pensar que já me tinha safado de vez, e pumbas, toma lá mais uma!
Na terça feira recebi alta, mas isso já sabiam .
Pelo meio de isto tudo tenho a dizer que fico muito deprimido no hospital, aquele ambiente faz-me mal, faz-me muito mal, ver as pessoas idosas já cheias de problemas, pensar que um dia vou ficar assim deixa-me profundamente triste! Só comecei a ficar melhor quando me deram comida sólida. Até lá estava num triste estado. A operação não é pêra doce, ainda não sei se vale a pena, para quem esteja a pensar fazer, atenção, a recuperação é um pouco complicada! Olhando para trás parece tudo tão simples, mas nos segundo e terceiro dia estive um pouco atrapalhado, mesmo muito em baixo, cheguei a chorar. Saí desta prisão bem mais cedo do que estava à espera, estar em casa ajuda muito a minha recuperação. Entre outras razões, dormir numa sala cheia de pessoas é um tormento.