Estou vivo...?
Ontem ouvia um programa de rádio em que se falava da esperança média de vida. A conversa ia para os lados de como a nossa economia (Europeia) se tinha que adaptar à nova realidade de que a população está a envelhecer. A entrevistada dava-se a si mesma como exemplo, no sentido em que quando era pequena disseram-lhe que ia viver até aos 66 e agora que tem 50 lhe dizem que viverá aos 81 e que portanto lhe dobraram o tempo (médio) que resta de vida!
A conversa continuou mas confesso que me comecei a distanciar do som enquanto me perdia nos meus pensamentos, coisa que, diga-se, é comum acontecer. Lembro-me de em criança pensar na morte e ter imenso medo, era bastante hipocondríaco mas nunca pensava até que idade ia viver, realidade que mudou com o aparecimento da doença. A verdade é que o facto de vivermos uma grande parte da nossa vida enfrascados em remédios tem impacto directo sobre o nosso prazo de validade. Portanto até que idade é que vou viver? Nunca vos passou isso pela cabeça?
O mais interessante no meio de isto tudo é pensar com que idade é que eu já teria morrido se não vivesse neste tempo/era. Já por duas vezes estive lá perto sendo que antes da operação a situação foi mesmo grave...
Enquanto pessoa jovem vivo com aquela sensação de imortalidade, para nós (jovens) o fim aparenta estar longe. Mas paremos esse raciocínio! A verdade é que a minha existência actual é um produto da Ciência, estou vivo apenas devido aos avanços da medicina e embora pareça um assunto trivial não é fácil de assimilar. Muito menos de explicar (tou há 15min a tentar escrever esta frase). É estranho pensar que em condições "normais", ou talvez seja melhor dizer "naturais", eu não estaria vivo! Provavelmente é isto que me faz não ser grande estudante e quem diz estudante diz tudo o resto na minha vida. Não sou uma pessoa com grandes ambições nem sou difícil de agradar. Gosto das pequenas coisas da vida ao mesmo tempo que deixo as grandes passar ao lado.
Ainda estou à procura do sentido da vida, um sentido que não seja a procura de fazer tudo o que puder antes que a morte venha, que não seja a entrega de um trabalho feito à pressa na véspera do prazo! E quando reflicto em como pensava no futuro quando não tinha a doença percebo que isto é algo que a doença de Crohn me roubou e que não sei se ela alguma vez me vai devolver! A busca essa, ..., continua...!